CEBs

"GENTE SIMPLES
FAZENDO COISAS PEQUENAS,
EM LUGARES POUCO IMPORTANTES,
CONSEGUEM COISAS EXTRAORDINÁRIAS". Provérbio Africano

domingo, 13 de janeiro de 2013

RUMO AO 13º INTERECLESIAL DAS CEB's - BIOGRAFIA DO BEATO JOSÉ LOURENÇO


O Ceará, distante do litoral, embora possua mananciais de água potável e possua uma flora invejável, também sofreu com períodos longos de chuvas escassas, que levou o povo a situações de verdadeira calamidade. No século XX , a falta de apoio por parte dos políticos é notória e a seca no nordeste, mantém cativa uma boa parte da população, que tem como opções de sobrevivência o misticismo religioso, o trabalho escravo nos latifúndios dos coronéis ou o cangaço, que tem como líderes, o lendário Virgulino Ferreira da Silva (O Lampião) e Antônio Vicente Mendes Maciel ( Antônio Conselheiro).
A fé do Nordestino, que manifesta-se em épocas de romaria, teve início em meados do século XX com o surgimento de diversas crenças religiosas cristãs e pagãs. Líderes religiosos e profetas populares enxergavam a miséria como castigo divino e sinal dos fins dos tempos. Encorajavam o povo a fazer penitências para obter a salvação de suas almas e assim terem acesso ao paraíso.
Nesse período de sofrimento entra em cena José Lourenço Gomes da Silva, que vem desempenhar um papel importante na história do Ceará.
Natural da Paraíba, ainda jovem deixou seu lar para trabalhar em fazendas de gado próximas a sua cidade. A fama do Padre Cícero e seus feitos propaga-se pelo Nordeste e chega aos ouvidos dos seus pais que
mudaram para Juazeiro do Norte, no Ceará. José Lourenço retornou a casa paterna, agora sediada em Juazeiro do Norte, no ano de 1890. Conquistou a amizade do famoso padre e se integrou às seitas de penitentes, (Os praticantes rezavam em cemitérios pelas almas do purgatório e praticavam a auto-flagelação para a purificação dos pecados).
Adaptando-se a vida na localidade, José Lourenço Arrendou o sitio Baixa Dantas e ali formou uma comunidade de 1894 a 1926, onde desenvolveu a sua primeira experiência de trabalho igualitário, onde tudo era de todos. A comunidade crescia a cada dia que muitas famílias eram envidas pelo Pe. Cícero para lá, por não terem trabalho e nem onde morar.
Em 1921, Pe. Cícero fez a doação de um boi para melhorar a raça do gado local e assim surgiu um boato de que o boi estava sendo adorado pela comunidade do sítio. Floro Bartholomeu, chefe militar de Juazeiro, num ato denominado por ele de “Combate ao Fanatismo” prendeu o Beato José Lourenço por mais de 18 dias, matou o boi, vendeu as terras e expulsou os camponeses sem nenhuma indenização.
Padre Cícero compadeceu-se e os enviou para a fazenda de sua propriedade, Caldeirão dos Jesuítas, um terreno árido de 500 hectares, limitado ao norte pela caatinga e ao sul pela Floresta do Araripe. Os camponeses não desanimaram e trabalharam arduamente até transformar o lugar em terras férteis e produtivas . O caldeirão foi povoado por famílias de todo o Nordeste, em sua grande maioria provenientes do Rio Grande do Norte. Mais de 2 mil pessoas viviam harmoniosamente em regime de mutirão, e o que se plantava ou fabricava na comunidade era dividido de acordo com a necessidade de cada família. O que não produziam era comprado nas cidades vizinhas. Assim os camponeses viveram em liberdade, longe da tirania e da escravidão dos coronéis.
A comunidade era pacífica e vivia da lavoura e de orações, porém, José Lourenço, seu líder, continuava sendo considerado uma ameaça pelas elites do Ceará, que viam no beato um líder comunista.
Com a morte do Pe. Cícero, aproveitaram-se do fato das terras pertencerem aos padres salesianos pelo testamento religioso desde 1923, e a ordem dos padres salesianos passou a cobrar tributos pelo usufruto da terra. Em 1936, o Bacharel Raymundo Norões Milfont, representante político dos padres, solicitou reintegração de posse do terreno.
Ainda em 1936, autoridades ouviram relatos do Capitão da polícia militar José Bezerra, que havia espionado a comunidade em busca de armas e apesar de não as ter encontrado, falou que temia que houvesse uma grande revolução socialista, pelo interior, caso a comunidade caísseem mãos Marxistas; pois havia muita gente no arraial. E assim no dia 11 de setembro 1936, os policiais militares entraram marchando na comunidade e apesar de não haverem encontrado o Beato José Lourenço que fugira para a Serra do Araripe, queimaram mais de 40 casa de taipa, expulsaram os moradores e prenderam homens de confiança do Beato.
Retornaram 14 dias depois e encontraram pessoas da comunidade dispersas no pé da Serra da Conceição e na Serra do Araripe, sob constante maus tratos das autoridades.
No início de 1937, correram boatos de que grupos de pessoas chefiados por Severino Tavares, atacariam o Crato. Então 11 Soldados liderados pelo capitão Bezerra, foram checar as informações, entraram em conflito com os camponeses e morreram. Dentre eles: O capitão, três praças e cinco camponeses, inclusive o Severino.
O acontecimento gerou revolta por parte do governo. O Ministro da Guerra Eurico Gaspar Dutra, para vingar a morte do capitão, colocou a disposição do governo cearense aviões sob a responsabilidade do Capitão José Macedo para reconhecimento da zona e localização dos camponeses e com ordens para matar qualquer pessoa vestida de preto que portasse um rosário. Em 11 de Maio de 1937, cerca de 700 lavradores foram massacrados pelos aviões, e 200 patrulheiros vasculharam a Chapada do Araripe. Mesmo depois do massacre os policiais continuaram a busca e o extermínio.
Em 1938, José Lourenço retornou ao Caldeirão e lá permaneceu por mais dois anos, até ser expulso novamente pelo procurador dos salesianos. Montou outra comunidade no Sítio União, no Exu, comprado com os 7 contos de réis recebidos em indenização por parte dos bens do caldeirão. O beato veio a falecer em 12 de fevereiro de 1946 no Sítio União, vítima de peste bubônica. O corpo foi levado pelos fiéis à Juazeiro do Norte. Pediram que o monsenhor Joviniano Barreto rezasse uma missa de corpo presente. O monselhor não permitiu que entrassem com o corpo na capela e se negou a atender ao pedido dos fiéis, alegando que não celebrava missa para bandido. O velório foi feito na casa de Eleutério Tavares e debaixo de chuva os amigos do beato fizeram o sepultamento do corpo no Cemitério do Socorro.

Texto: Evandro Rodrigues de Deus
www.acessogeral.blogspot.com.br

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